CASTRAÇÃO:
COMO ELA PODE PROPORCIONAR SAÚDE E BEM-ESTAR AOS CÃES E GATOS.
Dra Gisela Mechlin Wajsfeld
Médica Veterinária - CRMV-SP 7250

 

Sem dúvida que a castração, à primeira vista, assusta todos os proprietários de cães e gatos ... "O que? Castrar o meu bichinho? Que horror! Tadinho dele ... vai sofrer muito!". Atualmente sabe-se que ocorre o contrário. O animal sofre menos se for castrado, principalmente se a cirurgia for precoce, até os 6 meses de idade. Por quê?
Há inúmeros trabalhos científicos veterinários que comprovam que machos e fêmeas, cães e gatos, castrados possuem uma maior expectativa de vida. Tal fato deve-se a vários motivos. A fêmea castrada antes do primeiro cio tem quase nula a chance de desenvolver tumores de mama quando tiver mais idade. O tumor de mama é o câncer mais comum, principalmente em cadelas idosas. Além disso, evita totalmente a possibilidade de tumores de ovário e útero, sem falar na piometra, infecção uterina que comumente afeta fêmeas em qualquer idade. Sabe-se que a castração realizada até o quarto cio, diminui as chances da cadela apresentar os tumores de mama ... porisso, quanto mais cedo melhor, porque o efeito da cirurgia, para este objetivo, diminui com a ação dos hormônios liberados nos cios. Como se a prevenção de câncer não bastasse, temos também suprimidos todos aqueles sintomas de cio, como o sangramento, o inchaço da vulva, a gestação psicológica e a atração de machos pelas cachorras, além dos miados constantes, as tentativas de fuga e a inquietação típicos das gatas. É comum as quedas de gatos, machos e fêmeas, dos apartamentos serem motivadas pelo cio. Para complementar ainda, a castração de fêmeas ajuda a prevenir o diabetes e não causa obesidade, que depende unicamente da alimentação e da atividade física do animal.
A castração na fêmea (OSH - ovário-salpingo-histerectomia) constitui-se na retirada dos 2 ovários e do útero, que é composto por 2 cornos uterinos e um colo, assumindo o formato de um Y. No macho são retirados os dois testículos (orquiectomia total), permanecendo a bolsa testicular. Em ambos os sexos a cirurgia,principalmente se realizada em animais jovens, é extremamente segura e não deixa o animal traumatizado.
No macho as vantagens também são inúmeras. A castração previne totalmente a incidência de tumores testiculares e diminui consideravelmente o câncer de próstata, as hérnias perineais e a hipertrofia prostática, comum em machos idosos e frequente causa de infecções urinárias. Além disso torna o animal mais comportado, diminuindo as fugas e brigas, levando a uma menor incidência de infecções e atropelamentos. O macho castrado não vai marcar tanto o território através da urina e não fica "montando", no caso dos cães, incessantemente na perna das pessoas e objetos da casa. O cão de guarda será ainda melhor, visto não se preocupar mais com cachorras no cio, concentrando sua atenção na casa e na família. No caso dos gatos, em especial, o fato de diminuírem as brigas e cruzamentos, incorre na prevenção da AIDS felina ... sim, os gatos podem ser portadores do FIV, levando a uma síndrome semelhante à humana. O vírus é transmitido pelo cruzamento e por mordidas, e ainda não há vacina disponível. IMPORTANTE: a AIDS felina é específica dos gatos e não é possível de ser transmitida ao homem de forma alguma, nem por mordidas, arranhões, lambidas ou contato com o sangue, urina, saliva e fezes dos gatos. O vírus causador da doença é outro (FIV), não se constituindo em uma zoonose.
Por experiência própria e relatos dos proprietários, posso afirmar que os animais só mudam seus comportamentos para melhor depois da cirurgia. O animal castrado não perde a sua personalidade, pelo contrário, sem estar mais sujeito às ações dos hormônios sexuais, torna-se mais calmo e sociável, podendo se dedicar mais às brincadeiras com os donos e outros animais. O bichinho não tem mais sua circulação restringida durante o cio, ficando assim acessível o tempo todo, mais saudável, mais feliz e mais companheiro, por muito mais tempo. 
Não há comprovação científica de que o animal tenha que cruzar para ser normal, para desenvolver sua personalidade ou para prevenir doenças, que já vimos que é papel da castração. O animal que cruza agora não ficará satisfeito até o final de sua vida, tendo sua vontade renovada no próximo cio. Não há condições de cruzar a fêmea todo o cio ou o macho todo mês. Eles podem ficar mais calmos com o cruzamento, mas apenas temporariamente. Não há trabalhos comprovando que a gestação, ou várias delas, vai prevenir o câncer na fêmea... a castração sim. Além disso, como podemos garantir que vamos conseguir arrumar bons lares para todos os filhotes gerados? Infelizmente, muitas pessoas não têm a responsabilidade de assumir um animal até o final de sua vida.
*Além de visar a saúde e o bem-estar do animal "particular", a castração é a solução para os animais "públicos", ou seja, aqueles que são abandonados pelos donos e ficam pelas ruas à mercê de suas próprias sortes... ou será "azares"? 
Gatos e cães são abandonados todos os dias... porque ficaram doentes, porque estão velhos, porque o dono não sabe lidar com eles ou simplesmente não os querem mais. Correm perigos, sentem fome, frio e medo, podem causar acidentes de trânsito. Em praças e parques públicos são abandonados ninhadas de filhotes recém-nascidos indesejados por seus donos.
Os governos ainda promovem o sacrifício de cães e gatos como solução para o problema da superpopulação dessas espécies. Não promovem campanhas de castração e de educação para a guarda responsável; não fiscalizam o comércio ilegal - ações preconizadas pela OMS. Não existe habitat natural e nem lares suficientes para tantos cães e gatos.
Por todos os motivos citados e por todos os cães e gatos, com donos ou sem donos, a castração é, acima de tudo, um ato de amor!
 
*Parte do texto adaptado do original.
 
Dra Gisela Mechlin Wajsfeld é Médica Veterinária - CRMV-SP 7250.
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